1, 2, 3, Punta!

Uma temporada, um pulinho ou uma viagem programada: 
Punta del Este é um destino para todas as propostas.

Punta del Este recebe visitas todo o ano. Regulares, como o fazem os veranistas do Sur do mundo; frequentes, como se organizam os viajantes com seus points preferidos, e eventuais, como acontece com a maioria, aqueles que estão ocupados mais do que deveriam e a visitam menos do que gostariam. O balneário, como são chamadas essas praias urbanas descoladas pelo mundo, reúne atrações que oferecem desde eternos clássicos até as novidades buchichadas que fazem o lugar ser desejado em qualquer estação.

Eu me coloco em todas as categorias. Vizinha gaúcha, cresci na estrada para Punta com a família, com os amigos ou mesmo sozinha. Mais tarde, vivendo em Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo e Nova Iorque, o balneário foi ficando distante dos destinos das viagens a trabalho ou a lazer. Recentemente, fui retomando o contato e agora em setembro estive uns dias por lá. Três noites claras e estreladas, 3 dias de sol e vento, 3 irmãos e 3 gurias — os meus irmãos Sergio e Fernando, as cunhadas Lu e Paty e minha filha Floriana. Esse encontro ainda demoraria mais a acontecer, se fosse por nossa vontade: a proposta surgiu para que nos reuníssemos, os três filhos da Marlene, cele(m)brada com enorme saudade. 

Seja festa ou nostalgia, Punta, como sempre, entrega o que buscamos: passeios deliciosos, paisagens fantásticas, compras, comes e bebes estupendos e emoções em abundância. 

Em Punta não dá tempo de ter fome: a comida é um pin fixo no roteiro e as refeições são verdadeiras cenas cinematográficas. Começamos pelos clássicos. O Parador La Huella, em Jose Ignacio, é onde primeiro se põe os pés — na areia. A praia recebe habitués e forasteiros que ouvem de longe a fama do lugar. Com chuva ou sol, o point dos bonitos e bonitas, dos antigões e novatos descerra paisagens de sua natureza bravia entre o mar e o bosque que parecem pinturas. La Huella, então, é uma obra de arte e estou falando também do menu. Na nossa curta temporada, percorremos o quadro com os tiraditos — huevos e tostada de palta do desayuno —, as páginas em papel do cardápio: ceviche com batata doce (boniato), pulpo a la plancha com papas y pimentón, um show de arroz con lomo de cordero, feijões, curry y cilantro e a parrilla e suas carnes perfeitas, los postres (sobremesas) escritos a giz e feitos à perfeição e os tragos convidativos rabiscados pelas paredes.

La Huella e suas propostas para comer e beber espalhadas por cada canto

Preciso contar que La Huella, inspirada pelo petit gateau de doce de leite do Carlota, fez o seu no parador, um Vulcán de dulce de leche. A criação foi parar no livro La Huella, entre os pratos da casa, com citação a nós. No entanto, um erro foi publicado e fez tremer as relações internacionais e gastronômicas entre as partes: no texto eles dizem que o petit gateau do Carlota teria sido feito com leite condensado! Isso nunca aconteceu! Para não causar mais um confronto histórico no Cone Sul, recebi o livro autografado, enfiei embaixo do braço e saí sorrindo amarillo, agradecendo estar no compêndio culinário da turma desinformada, de quem sou (e serei) admiradora para sempre.   Digamos que errar faz parte da perfeição...

O livro de La Huella

Atrás de La Huella está a encantadora Fueguia 1833, perfumeria de nicho que faz homenagem aos povos originários da Sudamérica com essências produzidas a partir dos elementos da natureza local. Em pequenos lotes, os frascos exibem rótulos com nomes lindos: Cuentos de la selva, Cruz del Sur, Biblioteca de Babel. La Juanita parece nome de tango, mas é o bairro no sertão de Jose Inacio onde habita a livraria-café Rizoma. Enfeitiçados, pensamos em morar ali até chegar o novo ano (sem dizer qual), afinal, entre cafés, mimos de pâtisserie, livros e uma pequena galeria de arte, há alguns quartos que dão ao lugar também a função de pousada. É justo. 

Punta é também poesia, literatura e um destino de cultura e arte na rota do mundo — o Museo de Arte Contemporáneo Atchugarry, o Maca, inaugurado em 2022, quer promover e preservar a arte uruguaia e do continente americano — marca o pin aí! Com esse ecossistema criativo, não é à toa que o querido amigo e artista premiado Daniel Kondo com sua Dri moram lá, de onde ele dispara seus livros, capas, artes, ilustrações e invenções geniais para a galáxia. Cicerones perfeitos da temporada.

Na Barra de Maldonado, nos levaram ao Salón Número Trés. Paola Morselli e Gonzalo Giusta tratam com o mesmo capricho o antiquário, a comida, a horta e os convivas recém-chegados à sua casa de estar. O charmoso restaurante de cozinha sazonal vende antiguidades, faz pratos frescos, potes com gostosuras e atende o público desse jeitinho — o casal faz bonito em tudo. Comemos crudo de lenguado con apio, habas y taco de reina para refrescar o paladar, corvina y espinaca cremada e quase devoramos as alcachofras de color violeta que descansavam cruas sobre a mesa, tão sedutoras a nos mirar. Passeamos pelas estantes de livros e frascos com compotas, geleias e conservas cheios de desejos.

As delicias do Salón Número Trés: peixe-rei, lindas alcachofras e as conservas e livros

Mais uma parada, mato adentro, na Cantina del Vigía e sua proposta de oferecer, o ano todo, delicias do mar e do campo em fornos de barro – criações do chef Federico Marismo. Com produtos do dia, frescos e regionais, é um point fora do circuito, na levada comfort food, que me encanta. Os vegetais protagonizam grandes experiências na casa: lasanha de vegetais e raviólis de alcachofra foram nossa pedida, sem deixar de iniciar o festim pelas empanadas. Para encerrar, a torta Rogel, um mil-folhas com doce de leite por todas as camadas.

Empanadas, ravioli de alcachofras, lasanha de vegetais e a torta Rogel da Cantina del Vigía

A expedição Canarim, sobrenome que nos atravessa, fez (mais) um retorno às doces memórias ao aportar à entrada do imponente L´Auberge. O hotel na Playa Brava se apresenta como uma experiência de hospedagem em Punta del Este, um resort clássico que mescla amplas instalações às tradições cultivadas nas lembranças de seus visitantes, nos 75 anos em que recebe famílias, executivos, corporações, eventos e convenções. Vim pelos waffles, suspiramos em coro! Nem precisamos explicar muito, os tradicionais waffles do Auberge são tão famosos que estão na home do site da rede. No concorrido salón de té, os quadradinhos dourados dos waffles recebem generosas porções de chocolate, crema, banana com helado, frutillas ou o indefectível dulce de leche

Antes ou depois, a caminhada no bosque encerra sabores com amor e paz, todos precisamos.

A imponência de L’Auberge e seus waffles, seguidos de uma caminhada no parque do hotel.

@lahuella.parador 

@fueguia1833 

@rizoma.lajuanita 

@maca.fundacionpabloatchugarry 

@danielkondo 

@salonnumero3.comedor

@cantinadelvigia

@ hotel_l_auberge 


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